segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O poder LGBT nas urnas de Brasilia


O Eixão Sul foi tomado por fantasias, bandeiras com as cores do arco-íris e muita diversidade na tarde desse domingo (15). A 13ª Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) de Brasília reuniu uma multidão que caminhou da altura da 112 Sul até a Rodoviária do Plano Piloto. A Polícia Militar estimou que 5 mil pessoas compareceram à festa até as 16h. A organização do evento esperava 30 mil pessoas até o fim do percurso.
O tema deste ano é “Pela igualdade, a força do nosso voto”, em referência às eleições que acontecem em outubro. A proposta defendida pela Associação da Parada do Orgulho LGBT de Brasília (ABGLT) é que os homossexuais votem em candidatos que possuam propostas voltadas aos LGBT. “Não estamos dizendo para votarem nesse ou naquele candidato. Mas queremos votar em quem defenda a sociedade como um todo”, explicou Milton Santos, coordenador do evento.
Uma pesquisa realizada neste ano pela Organização Não-Governamental Estruturação revelou que 72% dos homossexuais, bissexuais e transgêneros pretendem escolher candidatos que façam parte assumidamente da comunidade LGBT. A maioria dos entrevistados (80%) disse que se lembra em quem votou nas eleições passadas. “Isso mostra que existe uma mobilização para o voto consciente”, avaliou Santos. O coordenador destacou que a Parada Gay de Brasília foi a primeira do País a colocar as eleições em discussão – o voto consciente também foi o tema do evento em 2006.
Outro objetivo da campanha é fazer com que o público não vote em branco ou nulo. Na visão da ABGLT, “a prática favorece que políticos homofóbicos cheguem ao poder”. A associação estima que Brasília possua 200 mil homossexuais.
O viés político atraiu os olhares de candidatos às eleições. Alguns subiram nos trios elétricos para discursar e fazer promessas voltadas ao público gay. Outros com menor visibilidade circularam entre a multidão distribuindo panfletos e sacudindo bandeiras. À medida que o público caminhava, era visível a grande quantidade de lixo que ficava para trás, fruto das campanhas eleitorais.

Figurino criativoEm meio a quatro trios elétricos, os participantes dançaram ao som de música pop e eletrônica. Muitos optaram por um traje mais confortável, como camiseta, bermuda e calça jeans, para facilitar a caminhada até a Rodoviária e suportar o tempo quente e seco. Mas as fantasias coloridas evidenciaram a criatividade do público. Havia personagens de desenhos animados, super-heróis, médicos e policiais. A travesti conhecida como Diana Ker foi ainda mais ousada: contou com a ajuda de um amigo e desfilou apenas com pinturas pelo corpo. “Nos outros dias a gente é obrigado a se comportar. Hoje, não. Hoje vale tudo!”, empolgou-se.

Diversidade de público Pelo gramado do Eixão havia gente curiosa para observar os participantes. Com muita animação, dona Dasinha Rezende Calmon, 86 anos, prestigiou o evento acompanhada pela a irmã e a filha. Ela conta que possuir familiares gays a ajudou a superar o preconceito. “Aprendemos a conviver”, emendou a filha, enquanto Dasinha se divertia ao acompanhar a passagem do trio elétrico.
Entre os participantes, homossexuais declarados ou não. As amigas Laís e Martha estiveram presentes, ainda que não assumam a homossexualidade para a família. “Falta um pouco de coragem pra encarar todo mundo”, admitiu Martha. Laís disse que percebeu a preferência por pessoas do mesmo sexo quando adolescente. “Mas sempre tentava não acreditar”, relembrou a jovem.
Mas a multidão não era composta apenas por homossexuais. Crianças acompanhadas pelos pais e casais heterossexuais dividiram o espaço com o público LGBT, demonstrando a receita de como vencer o preconceito: o respeito às diferenças.

Programação extensaA Parada LGBT deste ano não se prendeu apenas na passeata do último domingo. A programação teve início no dia 6 deste mês, com festas em boates LGBT, mostras audiovisuais e um debate. A festa que marca o desfecho da programação deste ano acontece no próximo dia 28.
Até setembro, a ONG Estruturação distribuirá uma cartilha com instruções de como escolher candidatos. A instituição também disponibiliza um “termo de compromisso com a cidadania LGBT para que os candidatos firmem o compromisso de atuar pelas causas da categoria.



Tribuna do Brasil

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